segunda-feira, 8 de junho de 2009

FILMES



O Corte

A nossa sociedade é composta de executivos, gestores, jovens que estão entrando no mercado de trabalho, pessoas dinâmicas que perderam o emprego ou que lutam para manter seu lugar no mercado de trabalho, famílias que sofrem o impacto da modernidade nestes tempos virtuais e da violência cotidiana das grandes megalópoles.
Daí a importante de falar do filme "O Corte", do cineasta Costa Gravas, que retrata os dilemas do nosso tempo, especialmente as conseqüências psicológicas devastadoras do desemprego. O filme ressalta que devemos tratar com sensibilidade e competência a questão do desemprego, que, junto com o terrorismo, é um dos grandes problemas do século XXI e, talvez, uma das grandes fontes de novos traumas.
"O Corte" denuncia de forma contundente os efeitos do capitalismo, a globalização e a sociedade de consumo. O nome do filme nos faz pensar sobre o sentido da palavra "corte". No discurso neoliberal, corte quer dizer cortar os excessos, conter, racionalizar, reduzir...; no "Aurélio", cortar
é separar uma parte de um todo, eliminar; abortar; interromper ou dividir.
O filme narra a estória de um executivo que é demitido de uma empresa. Ele acreditava na recuperação rápida do mercado de trabalho, o que não se confirma com o tempo. Disposto a voltar para o antigo cargo, ao invés de enfrentar um recomeço, o protagonista decide registrar uma caixa-postal e colocar um anúncio fictício no jornal. Ele recebe dezenas de cartas e começa analisar os candidatos. No meio do seu estudo, o protagonista decide que a melhor maneira de recuperar a vaga é assassinar o dono dos melhores cinco currículos e o homem que ocupou sua vaga na empresa.
Ele decide eliminar um a um os executivos que apresentam um perfil semelhante ao seu, considerando-os como adversários e inimigos mortais. O personagem segue o preceito mais famoso do filósofo Maquiavel que diz que os fins justificam os meios.
A violência dos assassinatos alia-se à publicidade agressiva. Ao longo de todo filme, sapatos, jóias, carros e mulheres aparecem em painéis publicitários espalhados pelas ruas. O discurso econômico que fundamenta as demissões, os assassinatos e a publicidade é a prova de uma sociedade em que o individualismo, em parceria com o consumismo, é o indicador máximo das relações. O humano que não acumula bens é descartável como são os produtos e objetos.
O final do filme é surpreendente. O sujeito consegue se reintegrar à empresa, porém não está livre do risco de ser eliminado. A ameaça dessa vez vem representada pelo sexo feminino, num campo de competição que até então havia sido predominantemente masculino. O possível novo concorrente, uma bela mulher... Talvez a mesma mulher de tantos cartazes, outdoors e painéis.
Um ponto chama a atenção no filme: o despreparo do sujeito para enfrentar a demissão. Perder o emprego e o prestígio social e, ainda, o poder, teve um efeito traumático para ele. Trauma pode ser definido como reação de pânico diante de situações de violência extremo e quer dizer ferida, em grego.
As situações traumáticas estão sempre ligadas a perdas como de emprego, ruptura de relações longas e significativas e perdas de parte de si próprio. As "pequenas tragédias" podem ter um valor traumático para o sujeito e provocar depressões. Os danos psíquicos produzidos em conseqüência da modernidade podem ser comparáveis a traumas.
No texto "Os traumas da modernidade", o filósofo Sergio Paulo Rouanet revela que temos épocas traumatogênicas. Desde a origem da humanidade, o homem está exposto a situações de trauma psíquico que pode ser produzido por desastres naturais, crimes, guerras. Para Rouanet, "As situações de choque que ocorrem no mundo atual nos faz supor que a neurose traumática venha a tornar-se a doença psíquica do século XXI, como a histeria o foi do século XIX".
A psicanálise é uma ciência moderna e, talvez, só ela possa desvendar este tempo contemporâneo em que nos encontramos. No entanto, não só os psicanalistas, mas as empresas, o governo e toda a sociedade devem estar atentos para o desemprego, um momento de solidão e trauma do cidadão. O desempregado sente-se como alguém que perdeu a cidadania. A psicanálise atual está preparada para enfrentar as perdas traumáticas. Novas patologias surgem como sintomas deste tempo breve e competitivo em que vivemos. Tudo se reflete na clínica: depressão, pânico, toxicomanias, doenças psicossomáticas. Para os psicanalistas, o sujeito é marcado, de forma indelével, por representações sociais e políticas de seu tempo.



Uma Mente Brilhante

Há algo na palavra "gênio" que mexe conosco. Por que será que há algumas pessoas que saem do convencional e conseguem ver o que outras não vêem, escutar o que outras não escutam ou, mais intrigante ainda, descobrir o que os outros não conseguem? Nomes como "Einstein", "Isaac Newton", "Galileu" ou mesmo "Charlie Chaplin" e "Orson Welles" passam por nossa cabeça com um misto de admiração e estranheza. E, mais intrigante ainda, é a seguinte questão: até que ponto a genialidade, se levada ao extremo, não pode ser comparada à loucura?Estes são os temas tratados por "Uma Mente Brilhante", o mais novo filme do diretor Ron Howard.
O filme mostra a história real do matemático John Nash, gênio precoce da Universidade de Princeton que se destacou elaborando uma teoria revolucionária que poderia ser aplicada à economia moderna, contradizendo 150 anos do reinado de Adam Smith na área. Nash, em mais uma interpretação brilhante de Russel Crowe (de "
Gladiador" e O Informante) é um rapaz tímido e introvertido que, se tem inteligência sobrando, peca feio na "sociabilidade". Ao ser convidado por uma garota a se sentar com ela em um bar, ele diz que não sabe exatamente o que falar, mas já que a finalidade do experimento é a troca de fluidos, por que eles não pulavam o ritual do bate papo e iam logo para o sexo?
Nash passa seus dias trancafiado na biblioteca de Princeton escrevendo fórmulas matemáticas enigmáticas nos vidros das janelas ou em seus aposentos conversando com Charles (Paul Bettany), seu melhor amigo e colega de quarto. Ele fica o tempo todo procurando pela "idéia original" que o separaria da mesmice do resto dos matemáticos e o faria importante. Há vários momentos que lembram outro filme com tema semelhante, o bom "Gênio Indomável", escrito e atuado por Matt Damon e que lhe rendeu o Oscar de roteiro em 1998.
Creio que há outra fascinação do público por pessoas lidando com fórmulas matemáticas como se seus cérebros fossem habitados pelo mais avançado processador "Pentium". Enquanto o personagem de "Gênio Indomável" era alguém que não queria a fama e fugia do reconhecimento, o personagem de Russel Crowe é um rapaz obviamente procurando uma maneira de se destacar e provar que ele vale alguma coisa.
O reconhecimento vem com a publicação de sua teoria sobre o "equilíbrio" e um emprego em Washington, como decifrador de códigos e, coisa que odeia, professor de matemática avançada. Em plena Guerra Fria, um dia ele é chamado no Pentágono para decifrar um código russo recém capturado e em questão de horas Nash consegue descobrir padrões e coordenadas importantes apenas olhando para o código. Ele então é visitado por William Parcher (Ed Harris, sempre dando um show), um enigmático e sombrio agente do governo que o contrata para procurar por mensagens do inimigo escondidas em revistas e jornais publicadas no país. Há um momento mágico, que dura um relance, em que a interpretação de Crowe é tão boa que podemos perceber a profunda gratidão de Nash a Parcher por estar confiando nele para um serviço tão importante. Mesmo sendo um "doutor" importante e bem pago, ele ainda é o rapaz procurando por reconhecimento dos tempos de faculdade.
Mas nem tudo é matemática na vida de John Nash. "Uma Mente Brilhante" tem a participação "iluminada" de Jennifer Connelly, que começou no cinema com "Era Uma Vez Na América" e depois faria "Labirinto", com David Bowie, "Rocketeer" de Joe Jonston e "The Hot Spot", enigmático filme de Dennis Hooper. Ela volta às telas como Alicia, uma das alunas de Nash, que consegue ver por cima da proteção fria e matemática dele e conquistar seu coração. Os dois se casam e tudo parece ir às mil maravilhas, quando de repente o filme dá uma guinada de cento e oitenta graus que nos faz questionar tudo aquilo que havíamos assistido até então.
Cada vez mais paranóico e vendo padrões e conspirações soviéticas em todos os lugares, John Nash finalmente perde o controle sobre a própria mente e torna-se completamente esquizofrênico, sendo internado em um hospital psiquiátrico. É então que tanto Nash quanto nós espectadores somos enfrentados por duras perguntas e dúvidas sobre o que é real ou não. Nash estava realmente trabalhando para o governo? Seu trabalho procurando padrões em revistas é realmente de segurança nacional ou não passa do delírio de uma mente desequilibrada? E, mais assustador ainda, seriam alguns dos personagens com o qual já nos familiarizamos reais ou são frutos da imaginação de Nash? Quem é real e quem é imaginário?
O filme de repente torna-se parecido com "Tempo de Despertar", em que o médico interpretado por Robin Williams tem que lidar com pessoas esquizofrênicas como Leonard, papel de Robert DeNiro. A direção segura de Ron Howard e a competência dos atores é tremenda e passamos a trilhar pela mente agora perturbada de John Nash, que não consegue mais distinguir entre quem são seus amigos de verdade ou seus companheiros imaginários. As situações mais banais, como quando Nash vai dar banho em seu bebê tornam-se tensas de suspense por ele não ter mais controle da realidade e criam tensão com a esposa Alicia, que não sabe quando pode confiar no marido.
"Uma Mente Brilhante" é forte candidato ao Oscar do próximo dia 24 de março. O filme já levou o Globo de Ouro de Melhor Filme, Ator (Russel Crowe, que pode levar seu segundo Oscar consecutivo), Atriz Coadjuvante (Jennifer Connelly, merecidamente) e roteiro (de Akiva Goldsman).
Um grande filme, mais um a lidar com este enigma que é a matemática e a mente humana.



Tratamento de Choque

Dave Buznik (Adam Sandler) é um jovem empresário que mesmo sob as mais severas humilhações, como as impostas por seu chefe, não consegue expressar a sua raiva e nem mesmo definir saudáveis limites com firmeza. Sua voz é tímida, quase efeminada, e seu olhar volta-se para o chão involuntariamente. Sua noiva (Marisa Tomei) é paciente e amorosa, embora percebendo as dificuldades de Dave. Percebe-se que a auto-estima de Dave é sofrível: ele se diminui frente aos outros, visto que parece estar constantemente comparando-se aos outros homens e concluindo sempre que é de fato inferior. O episódio no banheiro, quando compara sua genitália com a de seu rival amoroso, exemplifica bem a questão.
O episódio vergonhoso ocorrido em sua infância, ao ser despido por um garoto irreverente no momento em que ia dar o seu primeiro beijo, parece justificar as dificuldades de Dave. Ao sofrer vergonha pública, instaurou um núcleo neurótico que possivelmente tenha encontrado reforço em outras ocasiões, como na educação familiar.
O medo de ser desaprovado ante a opinião pública, desta forma, passou a exigir dele uma crescente atenção à satisfação das expectativas alheias, em detrimento de suas necessidades individuais. Como conseqüência, Dave tinha um ego frágil, incapaz de impor-se quando necessário. Dar limites, dizer "não", seria dar atenção e cuidado à própria alma. De outra forma, além de se tornar profundamente infeliz, alguém assim poderia desenvolver doenças psicossomáticas (raiva guardada) ou ser vítima de episódios de descontrole emocional. Mas em nosso filme entra em cena o doutor Buddy Rydell (Jack Nicholson), um terapeuta de controle da raiva, para auxiliar Dave. Que raiva? Ora, o Dr. Buddy pressupõe, como é razoável, que toda a raiva de Dave é reprimida ou negada, e trata de provocá-lo das formas mais sórdidas possíveis, gerando situações muito hilárias. Mas um alerta: se você assistiu o filme e não irritou-se nem um pouquinho com as atitudes do Dr. Buddy, cuidado, está a reprimir sua raiva! Goosfraba!




O Oitavo Dia

Prêmio de melhores atores em Cannes. Ao vagar sem rumo pelas estradas da França, um empresário estressado, por pouco atropela um jovem com da Síndrome de Down. O empresário leva-o no seu carro e a partir daí nasce uma profunda amizade entre os dois.
Harry (Daniel Auteuil) é um empresário estressado, que trabalha no departamento comercial de um banco belga e foi abandonado por sua esposa e filhas há pouco tempo. Deprimido, ele se dedica ao trabalho durante os 7 dias da semana. Até que um dia ele decide vagar pelas estradas da França, sem rumo definido. Após quase atropelar Georges (Pascal Duquennes), que sofre de síndrome de Down, Harry decide levá-lo para casa mas não consegue se desvencilhar dele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário